segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Tai Ji Quan se revigora



São 8h da manhã de domingo em Pequim e cerca de 35 pessoas se reúnem em frente ao Salão do Rei Celeste (Xi Tian Fanjing) no Parque Beihai, um dos maiores da capital. Apesar do frio outonal chinês, já por volta dos 10oC, estão todos dispostos e atentos às orientações do mestre Yang Songquan (foto acima), que lidera o grupo na milenar arte marcial chinesa do tai chi chuan (que na China se chama Tai Ji Quan). Espalhado por todo o Beihai, outros grupos se dedicam aos movimentos lentos, embalados ou não por músicas tradicionais chinesas, que muitos consideram um exercício de baixo impacto tão eficiente quanto a yoga, com o benefício extra de permitir um aumento do poder de concentração e de servir também como relaxante contra o estresse.



Pois são exatamente estes benefícios que estão ajudando hoje a rejuvenescer o tai chi chuan nas grandes cidades chinesas num momento em que muitos já consideravam a milenar arte marcial uma espécie de "exercício para idosos", fadada a desaparecer, substituída pelos ferros das academias ou das bicicletas ergométricas. Para o mestre Yang — professor de tai chi chuan há 20 anos no Centro de Treinamento de Chenjiagou e descendente da família Yang que deu origem a uma das mais populares correntes de tai chi em todo mundo — este crescimento é da ordem de 10% a cada ano nos últimos 10 anos.
— Na última década, percebemos um aumento no interesse dos jovens, especialmente aqueles ligados a empregos em grandes empresas privadas, mais competitivas, que reclamam da pressão do trabalho e querem uma forma de exercício menos agressiva e pesada do que as academias modernas — diz Yang (foto acima). — O estilo de vida mais apressado e competitivo deste período pós-abertura econômica está fazendo os jovens chineses descobrirem o tai chi como forma de cuidar ão apenas do corpo, mas da mente.

Há algumas semanas, a TV chinesa contou a história de Huang Zhongda, um ex-professor de Kickboxing que virou uma espécie de celebridade das artes marciais no país ao abrir um centro de tai chi chuan no Estádio de Xangai em dezembro passado e criar aulas voltadas para jovens e doentes de câncer. Suas sessões de tai chi ao ar livre no estádio durante os fins de semana chegam a juntar centenas de alunos, a metade jovens chineses profissionais de colarinho branco.
— O número de membros está aumentando muito, a maioria de jovens com pouco mais de 20 anos que já não enxergam na prática uma atividade exclusiva de idosos — diz ele.

Segundo o mestre Yang Songquan, qualquer praticante aplicado de tai chi chuan pode evoluir do nível básico para o avançado em apenas seis meses se treinar uma hora por dia ao menos cinco vezes por semana. Estima-se que cerca de 150 milhões de chineses praticam o tai chi chuan regularmente no país. O tai chi, que sempre esteve ligado à medicina tradicional chinesa aliando conceitos de bem estar físico e mental — e cujos benefícios se concentravam basicamente em melhorar o senso de equilíbrio e a flexibilidade, junto com uma melhora no sistema cardiovascular — passou a ser estudado pela medicina ocidental, que descobriu outros efeitos benéficos. Hoje, a prática é comprovadamente eficaz na melhoras das funções respiratórias e cardiovasculares e no combate a doenças tão diferentes quanto artrites, Parkinson, estresse, Alzheimer, insônia, depressão, pressão alta e até esclerose múltipla.

No parque Beihai, o administrador de empresas Qi Gang (foto acima), 27 anos, é um dos mais aplicados praticantes. Ele se juntou às turmas do mestre Yang há três anos por indicação de uma amigo porque simplesmente não conseguia relaxar.
— Eu fazia esporte e ginástica, mas o estresse do trabalho não me deixava relaxado nem após os exercícios — diz ele. — Hoje me sinto muito melhor, com total controle sobre meu nível de ansiedade e posso dizer que até trabalho melhor.
O tai chi ainda é extremamente popular entre os mais velhos, que vêem na arte marcial uma maneira de retardar os efeitos do envelhecimento. São a imensa maioria nos grupos espalhados pelo parque.
— Há 20 anos sentia dores numa das pernas e nunca consegui me livrar do problema apenas com medicamentos. — conta a aposentada Zhang Shifu, 77 anos (foto ao lado). — Mas desde que passei a praticar tai chi, há quatro, anos me sinto muito melhor. Engraçado é que sempre ouvi falar em tai chi chuan e seus benefícios, mas nunca levei a sério. Hoje, me arrependo de não ter começado antes.
Fonte: Blog do Gilberto Scofield (http://oglobo.globo.com/blogs/gilberto/)